La dificultad de filmar el terror en el cine brasilero

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O terror está em alta mais uma vez. “A terapia”, de Roberto Moreira, inspirado na lenda urbana da loura do banheiro, ganhou edital da Spcine, a empresa cinematográfica do município de São Paulo, e começa a ser filmado no início do ano que vem. “The hell within”, de Dennison Ramalho, terá produção de Slash, ex-guitarrista do Guns N’ Roses, e tenta angariar verba por meio de financiamento coletivo. O cineasta capixaba Rodrigo Aragão, de “Mangue negro” e “Mar negro”, roda o circuito de mostras e festivais com sua nova produção, o filme em episódios “As fábulas negras”, que tem a participação de José Mojica Marins, e ambiciona o circuito comercial. Há muitos projetos em andamento, mas por que esses filmes de gênero não emplacam no Brasil?

No ano passado, pelo menos três produções entre suspense e terror chegaram às telas: estrearam “Quando eu era vivo”, de Marco Dutra (renda de R$ 40 mil, com 8 mil ingressos vendidos); “Jogo de xadrez”, de Luiz A. Pereira (R$ 6 mil e 521 ingressos); e “Isolados”, de Tomás Portella (R$ 932 mil e 84 mil ingressos); este ano, chegaram “O vendedor de passados”, de Lula Buarque de Hollanda (R$ 1 milhão e 78 mil ingressos); “O amuleto”, de Jeferson De (R$ 22 mil e 1.695 ingressos); e “Romance policial”, de Jorge Durán (R$ 41 mil e 3.790 ingressos). Outras três devem vir até dezembro: “A floresta que se move”, de Vinícius Coimbra, com Ana Paula Arósio e Gabriel Braga Nunes; “Sinfonia da necrópole”, de Juliana Rojas, e “O outro lado do vento”, de Walter Lima Jr., com Virgínia Cavendish.

Nenhum dos filmes lançados chegou perto do sucesso que foi um exemplar heterodoxo do gênero, “O Xangô de Baker Street» (2001), mistura de comédia e gore (filme sanguinolento) que arrecadou R$ 2,2 milhões e atraiu 366 mil pessoas às salas. Foi-se o tempo em que um filme como “Esta noite encarnarei no teu cadáver” (1968), de Mojica, atraía um milhão de pessoas às salas. Ou comédias do gênero terrir, como “O segredo da múmia” e “As sete vampiras”, reinavam absolutas entre as maiores bilheterias dos anos 1980 — juntos, os dois venderam um milhão de ingressos.

 

Não é a primeira vez que o terror nacional ganha fôlego de produção e deixa a desejar nas bilheterias. De acordo com pesquisadores dedicados a estudar a evolução desses filmes na história da cinematografia local, o problema está mais no cinema brasileiro do que no gênero.

— Nossos principais ciclos de sucesso tiveram evidente vinculação com gêneros bem específicos: a comédia musical, a comédia erótica, o filme de cangaço, as comédias românticas da neochanchada, etc. Acontece que nem todos os gêneros do cinema estrangeiro prosperaram no cinema daqui, e isso não me parece surpreendente. Há vários exemplos na História de sucessos de filmes híbridos de vários gêneros com o terror. Então, acho que é mais um problema de construção de memória sobre o assunto — explica Laura Cánepa, professora de Cinema da Faculdade Anhembi Morumbi e especialista em filmes de terror e pornochanchadas.

Para quem está na linha de frente, porém, o problema vai além. Especialista em efeitos especiais baratos e em filmes de terror “de guerrilha”, o capixaba Aragão argumenta que há uma legião de fãs do gênero no Brasil, o que pode ser comprovado por sucessos como o de “Annabelle” (filme americano de 2014), 15º lugar entre as maiores bilheterias do ano passado, com renda de R$ 41 milhões e público de 3,7 milhões.

— As dificuldades do “terror brasileiro” passam pelo preconceito da máquina do cinema nacional, que envolve a desconfiança de jurados das leis de incentivo, distribuidores e exibidores. A maioria das empresas não quer ligar sua marca a um filme desse gênero. Apesar de tudo isso, vejo o futuro com bons olhos. Novos diretores, talentosos, têm produzido filmes cada vez melhores e com maior frequência, muitas vezes com orçamentos que beiram o ridículo. Inevitavelmente a máquina vai ter que nos engolir, pois nossos monstros serão cada vez maiores e mais assustadores e, como num bom filme de terror, eles vieram para ficar — diz.

MOJICA FRACASSOU EM 2008

Em 2008, quando Zé do Caixão voltava às telas com “Encarnação do demônio”, Roberto Moreira trabalhava em um filme de terror para a filial brasileira da Warner. Na época, ele tinha apenas um título em seu currículo, o drama de suspense “Contra todos”, de 2004. Ele havia proposto um projeto intitulado “A terapia do medo”, inspirado na lenda urbana da loura do banheiro, famosa nas escolas e acampamentos de férias. Sete anos depois, esse roteiro, abraçado de forma independente pelo cineasta paulistano, totalmente transformado e com o título “A terapia”, vai ser rodado no início do ano que vem, com Sophie Charlotte no papel de duas irmãs gêmeas envolvidas em uma trama sobrenatural.

Na época, havia expectativa em torno da volta de Mojica à direção, mas o filme do seu célebre personagem Zé do Caixão decepcionou, arrecadando apenas R$ 184 mil com a venda de pouco mais de 25 mil ingressos. A investida no horror sofreu um revés, e as distribuidoras preferiram colocar seu dinheiro em outros tipos de projetos. Moreira diz que essa recente predisposição para o terror e outros filmes de gênero se deve à formação cultural das novas gerações de realizadores:

— Acho que é uma geração mais aberta para o gênero. Foi uma galera que aprendeu a ver cinema com “Tubarão” (1975). O problema é que, no Brasil, não existe essa tradição. Falta filme policial, falta terror, falta ficção científica. O gênero que funciona aqui é a comédia. Precisamos diversificar — opina.

A professora Laura Cánepa concorda com o cineasta paulistano:

— Os grandes nomes do cinema mainstream brasileiro não haviam se interessado pelo gênero até agora. No entanto, a geração mais nova fez sua formação no universo das locadoras de vídeo e da TV nos anos 1980 e 1990, quando a oferta de filmes de terror era muito grande e variada. Com isso, o terror parece estar no radar desses novos diretores. Houve também, nos últimos 30 anos, uma reabilitação do gênero por parte da crítica no mundo inteiro.

A estreante em longas-metragens Gabriela Amaral de Almeida parece se encaixar como uma luva nessas definições. Aos 34 anos, ela vai estrear na direção com “Animal cordial”, que define como slasher ou splatter, subgêneros do horror marcados por violência gráfica e assassinatos aleatórios. Com Luciana Paes, Murilo Benício, Camila Morgado e Irandhir Santos no elenco, o filme se passa no interior de um restaurante invadido por dois ladrões. Ao longo de um período de três horas, a tensão fará com que os papéis sociais se invertam, colocando opressores contra oprimidos. A produção, com chancela da RT Features de Rodrigo Teixeira, começa a ser filmada em agosto.

— O gênero se estabelece a partir de narrativas de uma sociedade que se perpetuam no texto e repetem elementos, fórmulas e particularidades do enredo — explica Gabriela, que tem uma tese sobre o escritor americano Stephen King, cujas obras resultaram em clássicos do terror como “O iluminado”, de Stanley Kubrick.

CRÍTICAS AO MONOPÓLIO DAS COMÉDIAS

Ela diz, no entanto, que o gênero no Brasil ganha contornos muito particulares, em filmes como “O som ao redor”, de Kleber Mendonça Filho, e “Trabalhar cansa”, de Marco Dutra e Juliana Rojas:

— No filme de Kleber, por exemplo, existe o medo da invasão; no filme de Marco e Juliana, o medo é outro, passa pela relação entre homem e mulher. Enxergo no terror um meio de alegorizar situações que a gente vê na sociedade.

O produtor Rodrigo Teixeira, de “Animal cordial” e de outro terror, “Aurora” (título provisório), dirigido por José Belmonte, também defende a diversificação do mercado e aposta no gênero:

— Nada contra as comédias, acho que temos ótimos comediantes e filmes muito bons sendo feitos. Mas uma filmografia não pode depender de um gênero só. Temos muitos cineastas de talento fazendo terror, e é preciso apostar neles. Aliás, gostaria de ver o (Leandro) Hassum e o (Fábio) Porchat fazendo mais filmes que não comédias. Queria vê-los fazendo um filme de terror!

O Globo

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