Brasil: una voz joven contra el racismo

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Dividida entre a escola e os palcos, MC Soffia canta contra o racismo

Para MC Soffia, de apenas 11 anos, “não tem idade para falar sobre o racismo”. Com versos como “Que beleza suas danças/ que da hora suas roupas/ essa cor, essa alegria/ eu trago como herança/ Do continente africano, não trago só o gingado/ trago conhecimento/ Navio negreiro não foi apagado”, de “África”, a menina divide seu tempo, há cinco anos, entre a escola e os palcos. Seu objetivo: incentivar o empoderamento de meninas negras.

— Desde a infância, as pessoas sofrem com o racismo. Eu não ia esperar crescer para cantar as coisas que incomodam, entende? Quero mostrar para as meninas da minha idade que é bonito, sim, ter o cabelo crespo. Que somos rainhas. Fico feliz por saber que as pessoas já estejam pirando com as letras — comenta Soffia, que não se importa com o rótulo de “princesinha do rap”. — Eu gosto, até. Mas, como MC, eu canto coisa séria.

E canta mesmo. Ainda em “África”, a menina reserva um trecho da letra para citar personagens históricas das causas que defende, como a angolana Nzinga (ou Ginga, na versão abrasileirada), símbolo de resistência na luta contra a colonização portuguesa, e Chica da Silva. Em “Menina pretinha”, faixa que dará título ao seu primeiro EP, Soffia explica: “Canto rap por amor. Sou criança, sou negra, também sou resistência”. O disco ainda não tem data para ser lançado, uma vez que depende do sucesso de uma campanha de financiamento coletivo — até a conclusão desta edição, ela tinha arrecadado 25% meta, faltando 16 dias para o encerramento do projeto.

Soffia, que nasceu na periferia de São Paulo (mais exatamente em Raposo Tavares, região oeste da cidade), conta com o apoio irrestrito da mãe, Kamilah Pimentel, de 30 anos. Acostumada ao meio, uma vez que trabalhava como produtora cultural, Kamilah largou tudo para focar na carreira da filha.

— Desde pequena, a Soffia tem esse lado musical muito forte. Ela que fez as rimas e sabe exatamente a batida ideal para acompanhá-la em cada música. E consegue tirar notas de instrumentos depois de duas lições, no máximo — derrete-se.

O ano de 2015 foi fundamental para MC Soffia levar suas rimas conscientes para um público maior. Recentemente, ela participou do “Esquenta” e do “Altas horas”, ambos na Globo. E, no fim do mês passado, fez seu show de maior público no Festival de Arte Negra de Belo Horizonte, quando dividiu palco com a big band paulista Aláfia e a cantora mineira Zaika dos Santos.

Mas os holofotes não trazem apenas benefícios. Em um ano em que a atriz Taís Araújo e a apresentadora Maju Coutinho foram vítimas de racismo nas redes sociais, nem a jovem Soffia foi poupada dos criminosos que se escondem no anonimato permitido pela internet.

— Uns caras fizeram comentários preconceituosos contra ela no YouTube. Claro que isso me preocupa, mas vejo a Soffia como uma menina muito forte, apesar de jovem. Ela sabe que ajuda mulheres negras com a música dela, e que está falando por todas nós — afirma Kamilah.

Apesar da seriedade com que encara suas composições, Soffia segue sendo uma criança. E aproveita a entrevista para fazer o que há de mais gostoso na infância: sonhar com o futuro.

— Eu tenho vários sonhos. Principalmente, que o racismo acabe o quanto antes e que eu tenha inspirado outras meninas. E quero ser jogadora de futebol, de basquete, de vôlei, cantora, atriz, modelo e cardiologista. Acho que vai dar.

Publicado en OGlobo

 

 

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