Mirar el «lado B» de las ciudades

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Quem conhece Ouro Preto e Mariana sabe que existe rivalidade entre as duas belas cidades mineiras, movida, pelo que dizem, pela atenção e concentração de eventos culturais na antiga Vila Rica. Não falta quem apimente a diferença acrescentando como motivo de desentendimento a disputa por turistas. Quem entra nesta história é o festival Fotógrafos em Ouro Preto e Mariana, que tem programação de hoje a sábado em Mariana, incluindo exposições, debates e oficinas. “Nossa proposta, em 2016, é unir cidades-irmãs”, afirma o geógrafo e fotógrafo Lucas Godoy, coordenador do evento.

A explicação de Godoy tem motivo: trata-se de um festival com perfil singular, feito praticamente via trabalho voluntário, cuja aspiração é somar discussão de temas sociais e ambientais à meditação estética e à prática fotográfica. Declarando-se transdisciplinar (além de artistas, convida filósofos, biólogos, historiadores etc), o festival toca num tema importante do urbanismo: a concentração de infraestrutura de equipamentos necessários a toda cidade apenas em centros “históricos”, como criticou o historiador e crítico de arte Giulio Carlo Argam (1909-1992), que foi prefeito de Roma. Acrescente-se o tema, polêmico, da negação de uma história a outros locais.

Lucas Godoy vocaliza com contundência o tema. “Todas as cidades brasileiras só divulgam os cenários prontos, de recepção ao turismo, ou paisagens mundialmente conhecidas, sem refletir o que ocorre nelas ou no entorno delas. Chamamos essa apropriação dos lugares com interesse nos negócios de ‘disneylização’. Consideramos muito importante o turismo, mas sem ficar presos apenas ao Centro Histórico. Muitas vezes, a riqueza humana e cultural que explica uma cidade está nas periferias”, diz. Na avaliação dele, “viciados em consumir imagens, refletimos pouco sobre o que está por trás delas. E o resultado é que elas ficam muito superficiais. Gostaríamos de acrescentar referências que enriqueçam o fazer fotográfico”, afirma.

LADO B É também desejo do festival que as pessoas conheçam “o lado B” de Mariana e Ouro Preto. Por isso a programação inclui roteiros fotográficos que levam os interessados a “cantinhos maravilhosos”, bairros que têm mirantes, além de procurar oferecer conhecimento do meio ambiente e da culinária. “E da riqueza humana que mostra o lado bonito da mineiridade, como a boa acolhida e a interação humana muito autêntica”, observa Godoy. A rota dos passeios carrega uma reivindicação: “Que saiam do papel os parques ecológicos dos morros do Gogô e da Queimada”.

Se foi o rompimento de barragem da Samarco que apresentou Mariana ao Brasil, os organizadores do festival veem na tragédia uma oportunidade de discutir alternativas à dependência da mineração.

O Fotógrafos em Ouro Preto e Mariana tem um homenageado: Márcio Eustaquio de Souza, marianense que morou em Ouro Preto. Provocando o homenageado, a coordenação disse ao fotógrafo que ele deveria ter nascido em Ouro Preto. E teve resposta bem mineira: “Gostaria de ter nascido no limite entre Ouro Preto e Mariana. Amo as duas”.

“Essa história traduz bem o nosso sentimento”, afirma Lucas. O festival também tem “um guru” – o poeta Guilherme Mansur, que deu o título ao evento e desenhou sua logomarca. “E sempre nos estimulou com as criações dele, mostrando que a poesia e a literatura podem enriquecer a fotografia”, diz o coordenador. Ele está grato aos apoiadores de Ouro Preto e Mariana que tornaram o evento possível e também aos convidados que vão comparecer sem receber. Mas reconhece que, embora isso traduza apreço pelo evento, é também símbolo das limitações da empreitada. “Precisamos de algum grau de institucionalização, de forma a encaminhar mais projetos.”

Publicado en UAI

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