Cine paulista

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Festival discute lugar de fala e temas identitários no CineSesc

Por Sandro Macedo

Desigualdade social, violência urbana, identidade de gênero e manifestações culturais são temas recorrentes à 2ª Mostra Sesc de Cinema Paulista, em cartaz a partir desta quarta (18) e até o dia 25 no Cinesesc.

Com curadoria de Cecília de Nichille, Renata Martins e Rodrigo Gerace, o festival apresenta 43 filmes de perfis diversos —cinco deles, longas. Entre os selecionados está o curta «A Gis», de Thiago Carvalhaes, que resgata a
história de Gisberta Salce, transexual brasileira que morou ilegalmente em Portugal e foi brutalmente assassinada em 2006.

Exibido no Festival Internacional de Curtas, o filme entrevista amigos e parentes de Gis, como era conhecida, antes de descrever sua morte. Não é a primeira obra inspirada na vida da brasileira, que já virou música de
Maria Bethânia («Balada de Gisberta», que toca no filme) e peça com Luís Lobianco, «Gisberta», que rendeu polêmica no ano passado por ter um ator cis no papel principal.

O filme lembra ao final que a morte de Gisberta impulsionou mudança na lei de igualdade de gêneros em Portugal. Também abordando a aceitação sexual, o curta de animação «EstadoViolência» traz um futuro próximo, no qual a polícia está autorizada pelo governo a perseguir LGBTs. O preto e branco do desenho de
Rafael Ghiraldelli só ganha outras cores quando surge o vermelho do sangue de uma agressão ou as chamas de uma ação violenta.

Na chave da ficção, destaca-se «Peripatético», de Jessica Queiroz, premiado no Festival de Brasília (http://folha.com/no1921503), no qual três jovens da periferia buscam um rumo para suas vidas, seja na faculdade ou na tentativa de se inserir no mercado de trabalho.

Como pano de fundo, os fatos que aterrorizaram São Paulo em maio de 2006, quando dezenas de rebeliões aconteceram simultaneamente em ação orquestrada pela PCC, o que desencadeará em tragédia para o trio de
protagonistas.

Em tom de denúncia, o filme lembra as mortes de civis no período, a maioria, negros. «Se você for preto e pobre, a bala perdida acha um dono», lembra uma personagem.

O tom de denúncia é o que move também o documentário «Por Trás do Cartão Postal», de Junior Castro, no qual cinco moradores falam das condições precárias nas moradias instaladas na favela de palafitas de Santos, a maior do estilo no Brasil.

Mas nem tudo é drama ou sofrimento. Há também espaço na seleção para o descontraído «Super Oldboy» (2016), de Eliane Coster, escolhido o melhor pelo público no Festival de Gramado. Mesclando linguagens e em tom bem-humorado, mostra uma agência de office-boys da terceira idade. «Banco é rapidinho. Nossos boys pegam fila preferencial», diz a telefonista no curta, com participações especiais de Laerte, cartunista da Folha, Elke Maravilha  (1945-2016) e JeanClaude Bernadet.

DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO

«Peripatético», de Jessica Queiroz, em Sessão de Abertura (quarta, às, 20h30) e Curtas 6 (quinta, às 19h, e segunda, às 17h)

«A Gis», de Thiago Carvalhaes, em Sessão de Abertura e Curtas 2 (quinta, às 17h, e terça, às 19h)

«Médico de Monstro», na abertura do Cineclubinho (domingo, às 11h)

«Fora de Campo», documentário em longa-metragem de Luíza Zaidan e Colletivo Melkanaa (sexta, às 17h, e sábado, às 21h30)

Folha

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