Teatro y pueblos indígenas

FT Flavia Altenfelder
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Evento em SP reúne lideranças indígenas, artistas e pesquisadores para discutir teatro e política

Por Rafael Ventuna (Foto portada Flavia Altenfelder)

«Estamos vivendo tempos muito difíceis. O conservadorismo, o fascismo e o racismo avançam sobre nossas vidas e a nossa história», alerta Sonia Guajajara logo após encerrar sua disputa à presidência como candidata a vice pela chapa do PSOL.

Ela é uma das lideranças indígenas convidadas do projeto TePI – Teatro e os Povos Indígenas, Encontros de Resistência, que será realizado nesta semana no Sesc Pompeia. «É, sem dúvida, um espaço de troca e de ampliação da visibilidade sobre a luta e a realidade dos povos indígenas que seguem na invisibilidade em vários espaços no Brasil».

Ao todo, o TePI promove quatro encontros temáticos e com entrada gratuita de 9 a 12 de outubro que vão estimular um amplo debate sobre arte e política dos povos indígenas. A apresentação da peça teatral Gavião de Duas Cabeças, nos dias 9 e 16, também integra a programação estruturada pela curadoria da atriz e ativista Andreia Duarte e do líder político Ailton Krenak.

«As realidades artísticas no País, tais como as indígenas, são diversas e específicas. O que as une é a re-invenção nas formas de fazer. Modos que nem sempre coincidem com o tempo de um mercado», explica Andreia ao destacar que a proposta do evento pretende descolonizar o olhar e evitar clichês sobre as artes indígenas.

Sonia Guajajara é uma das lideranças indígenas mais influentes da atualidade

 

«TePI não acredita em pureza, mas sim em uma humanidade que troca, que dialoga, que se reinventa no aprendizado, na vivência, de tempos em tempos. E é pelo encontro que tratamos a diversidade», resume a curadora que morou por cinco anos no Xingu. «Eu me posiciono como aliada. Os povos indígenas, como os artistas, precisam de representatividade seja onde for».

O termo «aliado» é usado para identificar os não-indígenas que conhecem e apoiam as causas dos indígenas. Entre os aliados estão, por exemplo, os antropólogos Betty Mindlin e Ernesto de Carvalho e a coreógrafa Lia Rodrigues.

O alinhamento entre a trajetória de luta dos convidados e a opinião sobre o papel transformador da arte é um norte para a programação de TePI. «A arte é a única ferramenta ou arma que nos restou diante deste contexto político-sócio-econômico atual para alcançar visibilidade e ressignificar nossa existência», afirma Jaider Esbell, artista da etnia Makuxi, localizada em Roraima.

Esbell reforça como as políticas públicas ainda alienam os povos indígenas. «Nossas reivindicações são sempre as mesmas: direito à terra sagrada e respeito à dignidade plena». Apesar disto, Sonia Guajajara avalia 2018 como um ano histórico.

«Conseguimos reunir 130 candidaturas indígenas e compor uma chapa presidencial. Elegemos uma indígena para a Câmara Federal e outra para a Assembleia Legislativa de São Paulo. Nossa ausência no Congresso Nacional há 31 anos, desde Mário Juruna, acabou», celebra Sonia ao mesmo tempo que retoma a militância. «Nossas pautas são amplas. Continuamos na luta para vencer a invisibilidade, o preconceito e o racismo que insistentemente atingem nossos corpos há 518 anos.»

Programaçao

9/10 – O corpo não-colonizado indígena
Nesta primeira conversa, o público é convidado a pensar sobre o sentido de corpo para a população indígena, considerando a complexidade histórica, social e étnica do Brasil. A reflexão proposta é sobre como se dá o processo de constituição do ser que é o indígena, a forma do aprendizado e o entendimento da experiência como produção de conhecimento. Diferente de uma abordagem eurocentrista, na qual corpo e mente são fundamentalmente separados, há o questionamento se a formação da corporeidade indígena aponta para uma forma não colonizada de vida que integra a natureza, o saber e a arte.
Convidado: Ailton Krenak, Cristine Takuá, Betty Mindlin e Cacique Kotok Kamayura.
Mediação:  Rita Carelli

10/10 Conversa: Seria o teatro um lugar de representatividade dos povos indígenas?
No contexto desta conversa, há primeiramente o reconhecimento da diversidade étnica indígena no Brasil, considerando que vivemos uma história colonial que produziu tanto a invisibilidade social como também a reivindicação dos indígenas por representatividade pública e artística. Pelo viés do teatro, há a percepção de que existe uma produção teatral, feita por não indígenas, que aborda aspectos discursivos, corporais e políticos relacionados à causa indígena. Assim, a ideia desse encontro é realizar um diálogo entre representantes indígenas e artistas que criaram espetáculos com a temática indígena, levantando percepções sobre as produções teatrais e trazendo uma reflexão sobre o que é importante na representatividade indígena em relação às instituições de origem não indígena, além do  entendimento de que o teatro pode ser considerado um lugar de fala e um instrumento poético-político para os povos originários.
Convidados: Com Joilson Paulino Karapãna, Antonio Salvador, Daiara Tukano e Carla Ávila,
Mediação: Rita Carelli

11/10 Transmissão do documentário “Martírio” + Conversa: Por uma proposta de vida  anti-desenvolvimentista
Encontro dividido em duas partes. A primeira é a exibição do documentário “Martírio”, de Vincent Carelli, que traz uma análise da violência sofrida pelos grupos Guarani Kaiowá que habitam as terras do centro-oeste brasileiro. O filme mostra um conflito constante entre esses indígenas e os latifundiários locais. Há duas concepções em oposição: por um lado, a força de um projeto econômico subsidiado pelo Estado que obriga a saída dos indígenas de suas terras por meio da violência e etnocídio. E, por outro lado, o enraizamento dos povos Guarani Kaiowá, que permanecem lutando em seus territórios entendidos como ancestrais e necessários para a sobrevivência cultural e da vida. Já a segunda parte do encontro promove uma discussão sobre a formação do Brasil enquanto estado-nação e o seu projeto histórico social de colonização e exploração.
Convidados: Com Ernesto de Carvalho, Carmen Junqueira, Davi Popygua e Sonia Guajajara.
Mediação: Rita Carelli

12/10 Atos ancestrais e artísticos como formas de resistência
Os atos ancestrais, cantos xamânicos, danças femininas, pinturas corporais etc, são formas de rememoração, de expressão, de produção de saber e de identidade. As linguagens artísticas, como o teatro, o cinema, a arte plástica, levantam sentidos sobre o mundo, criando formas de percepção. Ao construírem registros, esses fazeres – tanto ancestrais, como das artes fragmentadas – inserem seus modos de produção e seus pensamentos sobre o mundo. Por esse viés, essa conversa que pretende entender se podemos ver as ações culturais artísticas como resistências em um mundo globalizado. Mas também refletir, como são realizadas as experiências teatrais feitas junto a indígenas, especialmente em estados do centro-oeste e norte do Brasil, e se essa cena consegue alavancar discussões para além do seu espaço de encenação, visando mudanças necessárias. Convidados: Luiz Davi (Professor Universidade Estadual do Amazonas – AM), Lia Rodrigues (diretora Cia Lia Rodrigues de Dança – RJ), Jaider Esbel, Makuxi de Roraima- escritor, artista plástico, pesquisa linguagens-RR. Mediação: Rita Carreli (atriz, indigenista, literata).
Convidados: Com Luiz Davi, Lia Rodrigues, Jaider Esbell e Mapulu Kamayura
Mediação: Rita Carelli

9 e 16 de outubro – Gavião de Duas Cabeças
Terças, 21h30
Espaço Cênico

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