Resistencia nordestina

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“Amor Fluido”: filme nordestino, LGBT e que desafia os conservadores

Cinema foi o tema escolhido para a redação do Enem deste ano, primeira prova sob a gestão do presidente Jair Bolsonaro. O assunto foi elogiado por especialistas da área, mas levantou uma discussão sobre os ataques que o governo federal vem fazendo à cultura no Brasil.

Em setembro deste ano, uma canetada presidencial reduziu a principal fonte de fomento de produções audiovisuais no País. Para 2020, Bolsonaro propôs um projeto ao poder legislativo que corta em 43% o orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual. É a menor dotação nominal para o fundo desde 2012, quando ele recebeu 112,36 milhões.

Além de realizar cortes nos investimentos, o presidente também cancelou ajuda do governo federal para filmes que tratavam de assuntos LGBTs, atitude que foi considerado até pelo então Secretário de Cultura como censura.

E mesmo diante de um cenário caótico, o cinema brasileiro vem se destacando. Divino Amor, Estou me guardando para quando o carnaval chegar,  Bacurau e A Vida Invisível são obras que ganharam projeção em premiações mundiais e têm pelo menos um elemento em comum: foram produzidas no Nordeste ou por realizadores nordestinos.

Nos estados que Bolsonaro mais ama odiar, a arte nasce como resistência. É o caso do filme Amor Fluido. A obra será lançada em Aracaju no dia 11 de dezembro e,  junto com Greta, história estrelada por Marco Nanini, desafia a onda conservadora presente no governo federal e traz a temática LGBT para dentro das salas de cinema.

O diretor do filme, André Zaady, morador da cidade de Aracaju, explica que a obra fala sobre sua história pessoal, mas transformada em metáforas. O personagem principal se chama Hugo, que representa Zaady ainda criança. Ele perdeu seu pai aos 9 anos de idade e sua mãe acabou parando numa clínica de reabilitação fazendo ele ir morar com os avós.

Um convite para passar as férias escolares com um casal de amigos da família pode ter traçado toda a sua história e talvez seja a raiz dos seus conflitos pessoais.

A partir disso, o filme conta a trajetória de um jovem de personalidade difícil e conturbada que, ao chegar em Aracaju, começa a namorar Scarlet, uma mulher decidida e envolvente, mas esconde dela que mantém um outro relacionamento com Duda, uma drag queen que trabalha numa casa noturna da cidade.

Hugo, Scarlet e Duda representam uma etapa da vida de Zaady. “Sao as três fases da minha vida que se encontram e vivem um amor fluido”, explica o diretor. Relações contemporâneas, homofobia e desejos oprimidos são algumas das várias temáticas abordadas no filme, que começou a ser produzido em 2017.

A ideia do filme, conta o diretor, é uma tentativa de colocar em debate o amor, sem uma definição de gênero.  “Eu pensei numa história que ajudasse a construir debates, quebrar barreiras e preconceitos comuns. Eu já estava cansado de histórias de amor parecidas, de contos de fadas mentirosos. Eu percebi que já estávamos na hora de termos uma nova experiência cinematográfica.”, contou.

“Acredito, sim, que esse filme seja um ato de resistência e também vejo esse projeto como uma bandeira ativista contra o governo Bolsonaro “, afirma Zaady, sobre ativismo e a temática LGBT. “Quanto a censura do atual governo aos filmes LGBTs, que é assim como vejo, só me faz ter ainda mais certeza do tamanho déficit de entendimento do Estado quando o assunto é um país laico, ou seja, de direitos e deveres iguais”, concluiu.

Carta Capital

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