Información como arma

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Cantora, engajada na causa, cita a liberdade para se alcançar a igualdade

Em seus shows, é frequente Paula Lima cantar e falar do direito das mulheres. É uma forma de a cantora chamar a atenção à conscientização feminina para a luta de equidade de gênero.

Nos últimos anos, o fato de ter assumido o papel de embaixadora da campanha #SomosTodasMariadaPenha do Tribunal de Justiça de São Paulo, acabou fazendo-a ter um contato bem próximo da causa.

“As histórias são assustadoras. Mulheres são mantidas em cárcere privado, apanham todos os dias. Existe essa questão masculina: ‘Eu sou seu dono’”, afirma. “A gente não pode perder mulheres por causa da violência doméstica, do feminicídio.”

A cantora diz sentir “obrigação de ser voz de outras mulheres que não tem voz” pelo fato de ser uma pessoa pública. Nesse mergulho à questão que ataca uma parcela expressiva da população, Paula Lima vê a opressão ocorrer às mulheres desde berço.

“Nunca sofri violência doméstica. Mas sofri muito preconceito por ser uma mulher negra. Prezo pela liberdade para se chegar a igualdade. A pior coisa é quando você vive com medo e quando você tem medo, você não vive.”

Ela identifica o problema em todas as camadas sociais e não somente com a mulher pobre: “O mais assustador é que isso é provocado por pessoas muito próximas, como o parceiro, o conjugue”.

Informação como arma

A intérprete acredita que a Lei Maria da Penha (sancionada em 2006 e referência no combate à violência contra a mulher) deu mais consciência às mulheres com relação aos seus direitos, mas vê as estruturas de proteção ainda frágeis.

“Considero a informação como a grande arma para as mulheres ficarem menos suscetíveis à violência. Precisa ter campanha mais direta e objetiva. Tem mulheres que ainda não sabem que elas não pertencem a ninguém.”

Para Paula Lima, a educação é o grande pilar nessa luta, inclusive para os homens, onde muitos não ter formação sobre o comportamento adequado.

“Fico agora pensando nas escolas, com essa questão da abstinência sexual, da não informação. Já sinto certa regressão de parte da sociedade por questões morais e bons costumes, mas isso não tem nada a ver com nada. Isso acaba liberando certos gatilhos violentos contra a mulher por conta do que está acontecendo nesse momento.”

Segundo ela, a informação focada na escola, no menino e na menina, para explicar o direito de todos, são essenciais: “Quando você não fala às crianças, elas também estão suscetíveis a outras coisas horríveis que acontecem por aí”.

E nesse aspecto, o papel do Estado é fundamental. “É importante que líderes tenham comportamento transformador e a favor da mulher por que nós somos o lado mais fraco. Precisamos dessa não misoginia. Quando um líder e um governo têm um pensamento contraditório ao bom senso e ao respeito às mulheres fica muito difícil.”

Ainda assim, a cantora afirma ter esperança e necessidade de continuar lutando pela causa. “Estamos dando passos a nosso favor, mas tem que assumir a causa. Falar sem pudor.”

Música

Paula Lima tem realizado atualmente o projeto Sou Lee em que interpreta canções de Rita Lee na versão mais soul, que é uma característica de seu trabalho.

Para o segundo semestre, a cantora promete novo álbum (o sexto de sua carreira), a maioria de músicas inéditas, de compositores que nunca gravou, como Rael, Emicida e Criolo. O trabalho trará também composição de Seu Jorge, este antigo parceiro de Paula. A cantora segue também com seu programa na Rádio Eldorado Chocolate Quente.

Carta Capital

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