Decimotercera Edición de la Fiesta Literaria de Paraty

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Diante da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) que começa nesta quarta-feira e vai até domingo, Mário de Andrade (1893-1945) facilmente poderia repetir o que escreveu numa carta enviada a Manuel Bandeira, em 1924: “Brasileiros, chegou a hora de badalar o Brasil”.

Na 13ª edição da Flip, cujo autor homenageado é exatamente o paulistano modernista Mário, badalar o local é tanto um desejo quanto uma necessidade financeira exigida pelo momento. A Flip 2015 terá praticamente o mesmo número de autores e mesas das edições passadas, mas, por trás da festa, esconde-se a dificuldade de se fechar patrocínios e realizar o evento, que reúne cerca de 25 mil pessoas anualmente. Além disso, um último baque ocorreu anteontem, quando o italiano Roberto Saviano, principal convidado internacional deste ano, cancelou sua viagem a Paraty.

A solução para os problemas, de acordo com Mauro Munhoz, diretor-presidente da Associação Casa Azul, que organiza a Flip, é “pensar projetos com horizontes mais largos”, “fazer mais com menos”, “tirar das dificuldades materiais ideias para se abrir novas portas conceituais”.

— Pensa uma coisa: a festa acontece durante cinco dias, com 20 e poucas mesas em que alguns autores falam para o público. Como um evento assim pode ter impacto na vida das pessoas? Mas tem, sobretudo para as pessoas de Paraty. E tem porque há uma construção por trás da festa, em que posicionamos a arte e a cultura — afirma Munhoz. — E isso tudo tem muito a ver com Mário de Andrade. Ele inventou de pegar o conceito de cultura popular e o colocou no moderno, na vanguarda.

O orçamento para a Flip 2015 é de R$ 7,4 milhões, menor que os R$ 8,5 milhões de 2014. Do total para este ano, 58% virão por Lei Rouanet, 9% pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura, 4% por apoio da prefeitura de Paraty e outros 29% de recursos sem incentivo público, como venda de ingressos e doações dos patronos. O dinheiro é usado tanto para os cinco dias de debates literários quanto para as atividades educativas realizadas ao longo do ano em Paraty.

— Para o tipo de projeto que a gente faz, a crise é constante. Na preparação da primeira Flip, em 2003, o dólar estava mais alto do que hoje, e havia uma incerteza pela perspectiva de mudança de governo. Ainda assim fizemos a festa. E continuamos fazendo, com uma programação principal que praticamente não se altera de um ano para o outro — afirma Munhoz.

A Flip terá 24 mesas, e, como em outras edições, é dado como certo que todos os ingressos serão vendidos até domingo, quando termina a festa. Porém, cortes já vinham sendo feitos desde o ano passado, quando a Tenda dos Autores, onde se concentra a programação principal, foi modificada para uma estrutura menos imponente.

Neste ano, o que mais chamou a atenção foi a escalação para o show de abertura: a festa, que já teve apresentações de estrelas como Gal Costa, Gilberto Gil, Paulinho da Viola e Adriana Calcanhotto, levará hoje ao palco o paratiense Luís Perequê, acompanhado da paulistana Dani Lasalvia e do grupo Os Caiçaras.

A escolha de um artista local, diz a organização, serve como uma reverência a Mário de Andrade, que valorizou o folclore nacional e a cultura popular. Os cachês menores e a economia com deslocamento e hospedagem, contudo, ajudaram a fechar as contas.

— Tudo no Brasil está se reorganizando diante das dificuldades que enfrentamos como país. A minha participação na Flip se deu também em épocas sem crise econômica, como, por exemplo, na abertura do show do Gilberto Gil (em 2013) neste momento, ela se dá não somente pela questão econômica, tenho a convicção de que fui uma soma de crise e credibilidade — afirma Perequê.

«PENSEI EM DESISTIR», DIZ DIRETOR

Por outro lado, a Flip defende que seu objetivo de valorizar Paraty vem sendo alcançado. No fim de 2014 foi inaugurado o Museu do Território, uma iniciativa da Casa Azul. O museu tem um orçamento de R$ 1 milhão, financiado pelo BNDES, e suas ações, de acordo com Munhoz, se integram à festa literária. Por exemplo, 16 vídeos em que moradores idosos de Paraty recordaram antigos costumes da cidade, para a exposição “Histórias e ofícios do território”. Suas falas geraram pequenos painéis metálicos que foram espalhados pela cidade, e suas imagens serão apresentadas ao público entre as mesas da Flip.

— É uma ação muito simbólica. A ideia é manter a memória dos paratienses viva, novamente fazendo uma relação com os trabalhos do Mário de Andrade — afirma Munhoz, que define a Flip como uma ação de “militantes”. — Em alguns momentos de dificuldade e conflito, eu já pensei em desistir de fazer a festa. Mas logo desisti da desistência. Existe uma coisa que é uma militância cultural no nosso trabalho. E, com ele, atraímos outros militantes.

O último momento de dificuldade será arrumar um substituto para Roberto Saviano. O jornalista italiano, famoso por seu livro “Gomorra”, anunciou que virá à festa, alegando que não pode deixar a Europa: Saviano vive acompanhado de seguranças devido a ameaças de morte que recebeu da máfia italiana. Sua mesa ocuparia o horário mais nobre da Flip, no sábado à noite, e um novo nome não foi anunciado até o fechamento desta edição, no meio da tarde de ontem.

Já a sessão de abertura da Flip, marcada para hoje, às 19h, contará com as conferências da crítica literária argentina Beatriz Sarlo, da professora de literatura Eliane Robert Moraes e de Eduardo Jardim, biógrafo de Mário de Andrade.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA DA FLIP

Nesta quarta

19h – Sessão de abertura: As margens de Mário

Beatriz Sarlo, Eliane Robert Moraes e Eduardo Jardim

21h30 – Show de abertura: Música na Praça

Luís Perequê, Dani Lasalvia e Os Caiçaras

Quinta, dia 2

10h – Mesa 1: A cidade e o território

Antonio Risério e Eucanaã Ferraz. Mediação: João Bandeira

12h – Mesa Zé Kleber: Falando alemão

Geovani Martins, Deocleciano Moura Faião e Katjusch Hœ. Mediação: Carlito Azevedo

15h – Mesa 2: De micróbios e soldados

Diego Vecchio e Saša Stanišic. Mediação: Joca Reiners Terron

17h15 – Mesa 3: A poesia em 2015

Matilde Campilho e Mariano Marovatto. Mediação: Carlito Azevedo

19h30 – Mesa 4: Encontro com Colm Tóibín

Mediação: Ángel Gurría-Quintana

21h30 – Mesa 5: Do angu ao Kaos

Jorge Mautner e Marcelino Freire. Mediação: Claudiney Ferreira

Sexta, dia 3

10h – Mesa 6: Encontro com Boris Fausto

Mediação: Paulo Roberto Pires

12h – Mesa 7: São Paulo! comoção de minha vida…

Carlos Augusto Calil e Roberto Pompeu de Toledo. Mediação: João Gabriel de Lima

13h30 – Mesa bônus: Brasil: uma aula

Heloisa M. Starling e Lilia M. Schwarcz

15h – Mesa 8: As ilusões da mente

Eduardo Giannetti e Sidarta Ribeiro. Mediação: Bernardo Esteves

17h15 – Mesa 9: Escrever ao sul

NgugI wa Thiong’o e Richard Flanagan. Mediação: Ángel Gurría-Quintana

19h30 – Mesa 10: Amar, verbo transitivo

Ana Luisa Escorel e Ayelet Waldman. Mediação: Paula Scarpin

21h30 – Mesa 11: Os imoraes

Eliane Robert Moraes e Reinaldo Moraes. Mediação: Daniel Benevides

Sábado, dia 4

10h – Mesa 12: Turistas aprendizes

Beatriz Sarlo e Alexandra Lucas Coelho. Mediação: Paula Scarpin

12h – Mesa 13: Encontro com David Hare

Mediação: Ángel Gurría-Quintana

15h – Mesa 14: De balões e blasfêmias

Riad Sattouf, Rafa Campos e Plantu. Mediação: Claudius

17h15 – Mesa 15: Os homens que calculavam

Artur Ávila e Edward Frenkel. Mediação: Bernardo Esteves

19h30 – Programação em aberto (essa era a mesa de Roberto Saviano, que cancelou presença na Flip)

21h30 – Mesa 17: Desperdiçando verso

Arnaldo Antunes e Karina Buhr. Mediação: Noemi Jaffe

Domingo, dia 5

10h – Mesa 18: Música, doce música

José Ramos Tinhorão e Hermínio Bello de Carvalho. Mediação: Luiz Fernando Vianna

12h – Mesa 19: De frente para o crime

Leonardo Padura e Sophie Hannah. Mediação: João Gabriel de Lima

14h – Mesa 20: Conferência de encerramento

José Miguel Wisnik

16h – Mesa 21: Livro de cabeceira

Ayelet Waldman, Colm Tóibín, Diego Vecchio, Eduardo Giannetti, Marcelino Freire, Matilde Campilho, NgugI wa Thiong’o e Richard Flanagan. Mediação: Liz Calder

O Globo

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