El genio Pop de Vik Muniz en un libro

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Catálogo que reúne toda a produção realizada por Vik Muniz em 29 anos de trajetória artística, “Tudo até agora” chega às livrarias, na próxima semana, já desatualizado. Mas não há demérito algum nisso. Produzir um catálogo raisonnée (reunião da obra completa de um artista) de Vik é um risco calculado. Mais internacional e pop dos artistas brasileiros, com peças em dezenas de coleções e instituições mundo afora, ele, aos 53 anos, é uma usina inesgotável de ideias, que se desenvolvem em obras de arte originais e intrigantes.

Agora mesmo, por exemplo, finaliza “Perfect strangers”, um grande mosaico em vidro para uma nova estação de metrô em Nova York; prepara a montagem da primeira exposição temporária do Museu do Amanhã (a instalação “Perimetral”, em parceria com Andrucha Waddington); inicia um projeto com atores para captar, com 120 câmeras simultâneas, momentos precisos de ação dramática, a ser transformadas em esculturas de mármore (o projeto está concorrendo numa seleção da Royal Portrait Academy, em Londres); e produz, a convite do Mauritshuis Museum, em Haia, novos trabalhos da série “Verso”, em que reproduz a parte de trás de telas icônicas (desta vez, obras-primas como “Lição de anatomia”, de Rembrandt, 1632, e “Moça com brinco de pérola”, de Vermeer, 1665).

“SOU COMO UMA BOLA DE PINBALL”

Paralelo a tudo isso, há exposições em curso, como no Museu da Vale, em Vitória, o projeto “Mnemonic vehicles”, em Turim, no qual carrinhos de Matchbox de sua infância são fabricados por montadoras em tamanho real, a escola-laboratório no Vidigal, que deve ser inaugurada formalmente depois do carnaval, a colaboração com o Conselho Italiano de Imigração, no qual se envolveu após o drama dos refugiados naufragados na costa do país.

— Sou como uma bola de pinball, que vai batendo nas coisas — diz Vik, em seu ateliê no Rio, um dos dois que mantém (o outro é em Nova York), com uma estrutura surpreendentemente enxuta para o volume de trabalho. São oito pessoas no total.

O livro editado pela Capivara revela os muitos pinos atingidos pela bola de fliperama. A publicação, bilíngue, é um trabalho de peso, não importa o sentido — são 900 páginas divididas em dois volumes, que atualizam um catálogo publicado pela mesma editora em 2009. Na época, apareceram peças de paradeiro desconhecido, principalmente dos primeiros anos, incluídos nesta edição. O registro de todos os trabalhos de Vik é acompanhado de textos do artista comentando e explicando a gênese de cada série. Traz, ainda, uma apresentação do bibliófilo Pedro Corrêa do Lago, sócio da editora, outro da curadora Ligia Canongia (“aprendo muito com ela sobre o meu trabalho”, diz ele), e uma entrevista feita pela crítica Luisa Duarte. Vik, que refuta a noção de talento, diz que tudo ali é fruto de “trabalho, curiosidade e… trabalho”.

— É um livro que tem uma narrativa a ser explorada, o cara pode abrir onde quiser, ler do jeito que quiser — diz ele.

“Tudo até agora” traz desde primeiras obras, de 1987, com forte influência do minimalismo, até as mais recentes, feitas este ano. Estão lá objetos como “Prateleiras de poeira” (1988) e a série fotográfica “Crianças de açúcar” (1996), que ele considera o ponto de virada na carreira. Foi ali, com os rostos de crianças desenhadas com açúcar, e depois fotografadas, que percebeu que era o processo em si que o interessava.

— Eu não estou interessado em fazer obras de arte. Mas estou interessado em desenvolver processos. Isso é que é o meu foco. Não é produto nem objeto, é processo. Odeio quando as pessoas falam: Ah, o Vik trabalha com chocolate, com geleia…” — diz, referindo-se a obras como a “Mona Lisa dupla” (1999), da série After Warhol. — O material do artista é o que vem da experiência. Você cria situações meio esquisitas, de estar no chão, ou mexendo com os bastidores de um museu, por exemplo, porque na verdade está se expondo a um tipo de experiência diferente, que vai informar o seu trabalho de forma distinta.

INSETOS MORTOS EM CÓPULA VIRAM GRAVURAS

Entre as últimas obras no livro, estão “Lovebugs” (2014), em que usou insetos conhecidos como besouros do amor, mortos enquanto copulavam, em pleno voo, para criar gravuras com imagens do Kama Sutra; ou a instalação “Lampedusa” (2015), um “barco de papel”, em tamanho real, que fez navegar em Veneza, chamando atenção para o drama dos refugiados. Mas há séries pouco conhecidas, como “Erotica” (2001), em que criou imagens pornográficas com massinha de modelar. Ele mesmo não a considera bem-sucedida, mas achou necessário constar no livro:

— Acabou se tornando uma parte importante do meu processo de trabalho, simplesmente porque precisava tirar isso do caminho.

Se há ainda algum debate sobre se Vik é mais um ser midiático do que um artista, este parece não fazer sentido diante de sua inserção no sistema de arte. Há obras suas, hoje, em 127 instituições públicas em todo o mundo. O MoMA o convidou para fazer uma exposição usando seu acervo de fotografia, e o Louvre o deixou fazer uma réplica de sua tela mais valiosa, a “Mona Lisa”.

— A obra dele é extraordinariamente atraente e incrivelmente bem cotada internacionalmente. É uma conjunção insuportável para algumas pessoas — diz Corrêa do Lago, que pensou na abrangência do artista ao elaborar o catálogo, produzido com recursos da Lei Rouanet, em tiragem de tês mil exemplares.

— Queríamos fazer um livro que fosse tecnicamente útil para os especialistas mas ao mesmo tempo esteticamente atraente para o amador de arte.

Já Vik, mesmo apostando na curiosidade das pessoas sobre como se desenvolve o processo de um artista, resume:

— É um livro que fiz para mim. Para poder ter uma mapeamento do meu trabalho e entender para onde estou indo.

Publicado en O Globo

Vik Muniz assina obra de novo trecho do metro de Nueva York

Sempre envolvido em mil projetos diferentes, o incansável Vik Muniz agora vai dar uma cara totalmente diferente ao novo trecho do metrô de Nova York que será inaugurado em dezembro de 2016, extendendo a linha Q da Segunda Avenida até a Rua 96.

«São 37 mosaicos que vão tomar conta da estação. Estão sendo montados em Munique, na Alemanha, por um time de artesãos italianos. A pegada é hiperrealista. Quem entrar na estação vai ver pessoas paradas, esperando o trem. Um efeito superilusionista», diz o artista plástico brasileiro.

Antes disso, ele lança no Rio de Janeiro, em dezembro próximo, seu segundo catálogo raisonné – ou seja, um resumo integral de sua obra – em dois volumes. ‘Vik Muniz: Tudo até agora – Catalogue raisonné 1987-2015’ reúne em 900 páginas 1400 obras do multiartista, divididas entre desenhos, esculturas e fotografias.

Publicado en Época
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