Bolsonaro contra el financiamiento de cine con temáticas LGBTIQ+

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‘Se não houvesse mandatos, já tinha degolado tudo’, diz Bolsonaro sobre Ancine

Presidente listou filmes e séries sobre sexualidade que, segundo ele, não deveriam ser aprovados pela agência

Por Fabiano Ristow

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira, num vídeo transmitido ao vivo nas redes sociais, que já teria «degolado tudo» caso a Ancine não «tivesse, em sua cabeça toda, mandatos». Hoje, a diretoria colegiada da agência tem três pessoas com mandatos de quatro anos.

Procurada, a Ancine não respondeu à declaração. O diretor-presidente do órgão, Christian de Castro, mantém o silêncio desde que Bolsonaro ameaçou extinguir a agência, em julho.

O presidente voltou a dizer que não vai impor censura no cinema brasileiro, mas criticou projetos aprovados para captação via Lei do Audiovisual ou por meio de editais. A maioria envolve temas como sexualidade.

Entre as obras citadas por Bolsonaro está o curta-metragem universitário «Afronte», de Marcus Azevedo e Bruno Victor, um docudrama sobre a realidade vivida por negros e homossexuais do Distrito Federal. Foi exibido no Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade e no Festival de Brasília.

— Confesso que não entendi por que gastar dinheiro público com esses filmes. Não estou perseguindo ninguém. Cada um seja feliz como quiser. Mas gastar dinheiro público com isso… — afirmou, listando outras obras com temática LGBT, como «Religare queer», série sobre uma «ex-freira lésbica».

Filmes ‘impróprios’

Nesta quarta-feira, Bolsonaro se reuniu com o ministro da Cidadania, Osmar Terra, para discutir o decreto que irá transferir a Ancine do Rio para Brasília.

— O pessoal tem mandato. Se o pessoal se adequar ao que nós queremos, dá para mantê-la — afirmou ele, após o encontro.

O presidente disse que, na reunião, Terra mostrou nomes de filmes que ele considera impróprios para receber dinheiro público, diretamente ou por renúncia fiscal, mas voltou a negar que uma restrição no financiamento signifique censura:

— Não existe. Como já falei para vocês, essa questão de recurso público, se entra renúncia fiscal ou não, a gente não pode aceitar qualquer coisa. Ele ficou de me dar os nomes dos filmes propostos. Não vou falar aqui porque estou com vergonha, talvez eu fale na live de quinta-feira a proposta de uns filmes para fazer via Ancine que pelo amor de Deus.

O Globo


Bolsonaro diz que série do DF será recusada pela Ancine; diretor responde

O presidente Jair Bolsonaro voltou, nesta quinta-feira (15/8), a fazer críticas a obras audiovisuais que recebem autorização da Agência Nacional do Cinema (Ancine) para captar recursos por meio da Lei do Audiovisual. Em transmissão ao vivo pela internet, elencou algumas que, segundo ele, teriam entrado com pedidos, mas que o governo havia conseguido «abortar a missão». Entre os títulos citados, está Afronte, dos diretores brasilienses Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo.

Depois de ler os nomes das obras inscritas e o texto de apresentação delas, o presidente falou: «Outro filme: ‘Afronte. Mostrando a realidade vivida por negros homossexuais no Distrito Federal’. Confesso que não entendi nada». Em seguida, prosseguiu: «Olha, a vida particular de quem quer que seja, ninguém tem nada a ver com isso, mas fazer um filme Afronte, mostrando a realidade vivida por negros homsesexuais no DF, não dá para entender. Mais um filme que foi para o saco. Se a Ancine não tivesse, sua cabeça toda, mandato, já teria degolado todo mundo».

Afronte é o título de um curta-metragem produzido por Azevedo e Santos como projeto de conclusão de curso em audiovisual na Universidade de Brasília (UnB). O filme foi exibido no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em 2017 e ganhou o Prêmio Saruê, concedido pela equipe de Cultura do Correio Braziliense. Para a produção foram arrecadados R$ 10 mil por via de doações via internet. O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) e a atriz e Leandra Leal ajudaram na arrecadação.

Neste ano, a dupla de diretores entrou com um pedido de patrocínio para uma série de mesmo nome, derivada do filme. Ao Correio, Santos disse que não houve ainda resposta da Ancine. Pela fala de Bolsonaro nesta quinta-feira, porém, as chances de aprovação parecem não existir.

O diretor lamentou a postura do presidente. «Estou surpreso que ele tenha tido conhecimento sobre conteúdos de qualidade. Ele é extremamente ignorante ao pensar que filmes como esse, que falam sobre nós, não deveriam ser produzidos. É importante que ele assista a esse filme, para que ele tenha o mínimo de conhecimento sobre a realidade brasileira», afirmou. «Se o racismo fosse levado a sério no Brasil não teríamos um presidente como esse. Falta ele estudar. O cinema está aí para refletir todas as realidades”, completou.

Outras produções barradas

Na transmissão ao vivo, o presidente disse que tinha uma lista de dezenas de filmes que, em sua opinião não deveriam contar com verba pública ou patrocínios que se convertem em abatimento de impostos. Além da produção brasilense, os outros títulos citados foram Transversais, que segundo o presidente conta a história de «sonhos e realizações de cinco pessoas transgêneros que vivem no Ceará»; Sexo reverso, que abordaria «sexo grupal, sexo oral e certas posições sexuais»; e Religare queer, sobre «uma ex-freira lésbica». «É pra cair para trás», disse Bolsonaro.

Para o presidente, a intervenção na Ancine não é censura. «Não censurei nada. Quem quiser pagar, se a iniciativa privada quiser fazer filme da Bruna Surfistinha, fique à vontade. São milhões de reais que são gastos com esse tipo de tema», disse. «E outra: geralmente, esses filmes não têm audiência, não têm plateia, tem meia dúzia ali. Agora, o dinheiro é gasto», afirmou.

CorreioBraziliense

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