Brasil: Facismo verde y sotana roja según Helder Cámara

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“Em cada um de nós dorme um fascista e às vezes ele nunca desperta. Às vezes, porém, ele desperta sim.” O autor de frase tão atual sabia bem o que dizia, pois na juventude fora entusiasta do movimento integralista, os camisas-verdes do fascismo brasileiro organizado.

Nos anos 1950, o cearense Dom Helder Câmara (1909-1999) tornou-se, no entanto, entusiasta do ideário socialista, como expressa a alcunha a ele aplicada, o “bispo vermelho” (da arquidiocese de Olinda e Recife), em especial por propostas que influenciaram a Teologia da Libertação e por defesa incansável de direitos humanos durante a ditadura. 

A Cia. do Tijolo, do sucesso Concerto de Ispinho e Fulô (2010), a partir de Patativa do Assaré, recria passagens da biografia do religioso. Há conexões com o momento político brasileiro atual, procedimento a tornar-se unânime em certa nova dramaturgia paulistana.

Para tanto, o grupo de oito atores e músicos utiliza, em especial, entrevista publicada pela jornalista italiana Oriana Fallacci, em 1970, a incluir a supracitada declaração sobre fascismo. 

Embora com parcerias, Dinho Lima Flor acumula direção, dramaturgia e protagonismo. Músicos e atores-cantores, dirigidos por William Guedes, respondem por versão de câmera da sempre arrepiante Missa Luba, utilizada por Pier Paolo Pasolini em O Evangelho Segundo Mateus, este com trechos projetados no cenário, pois teria constituído inspiração para o cristianismo social helderiano.

Assim, a montagem avança como missa profana, com passos de calvário tornados estações de trem e comunhão com vinho tinto e caldinho quente feito ali mesmo. A cia. aproxima-se mais bem de epifanias, todavia, por caminhos cenográficos e musicais, ainda que passíveis de evolução.

Publicado en Carta Capital
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