El lado político de Jorge Amado

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O outro lado, também político, de Jorge Amado

Por Marina Gama Cubas

“Não conte, mostre.” Foi com esse conselho, a bagagem de jornalista do mundo das letras e a formação de historiadora que Joselia Aguiar escreveu Uma biografia: Jorge Amado (ed. Todavia), obra que revela em mais de 500 páginas a história de um dos grandes nomes da literatura brasileira. “O livro poderia ter o dobro do tamanho e ainda assim não seria chato”, diz a biógrafa.

A missão de escrever sobre Jorge Amado lhe foi dada há sete anos. Era 2011 e, em pouco mais de um ano, seria celebrado o centenário do escritor baiano. O plano era lançar o livro nesse período, mas logo nos primeiros meses de pesquisa, a jornalista percebeu que o deadline era curto demais. Havia muita vida em Jorge Amado e em sua época.

Conhecido por sua militância na literatura, pouco se fala de seu papel no mundo político-partidário. “Ele entra para a juventude comunista em 1932. Nesse período, faz uma obra que é considerada muito militante – CacauSuorJubiabáCara Vermelha -, em que, quase sempre no final, o herói sempre se engaja na luta. Eram nos livros que ele indicava ao leitor para se tornar comunista e fazer greve.”

Biógrafo

No Partido Comunista, ele foi considerado um quadro fiel. Participava das reuniões e atuava inclusive nas questões burocráticas da sigla. Seu nome ganhou maior importância de fato após lançar a biografia de Luís Carlos Prestes, escrita enquanto estava no exílio. Vida de Luís Carlos Prestes: O Cavaleiro da Esperança, lançado antes na Argentina (1942) que no Brasil, foi um sucesso de público.

“No Brasil, os leitores receberiam a obra clandestinamente: encontradas por vezes a preços exorbitantes, era também consumida por meio de cópias datilografadas e fac-símiles. O aluguel do exemplar também era possível. Para despistar, leitores referiam-se ao livro por títulos como “Vida de são Luís’, Vida do rei Luís’ e ‘Travessuras de Luisinho’”, descreve Joselia no livro.

Parlamentar

Poucos anos mais tarde, Jorge foi lançado por seu partido a deputado federal. “Hesitei longamente, e aceitei a custo. Não acredito em Prestes e na atual direção do Partido”, escrevera em seu diário em novembro de 1945, colhido pela biógrafa. Nesse período falava, na sua intimidade, um Jorge que começava a ver as contradições do próprio partido.

Na Assembleia Constituinte, junto com Marighella, foi autor do primeiro discurso feito pela bancada comunista, proferido por Claudino José da Silva, ex-ferroviário e marceneiro, era o único negro alí. Os dois acabaram se tornando os redatores oficiais do partido naquele período.

Não foi apenas do talento oratório que Jorge se firmou no Parlamento. Ele foi autor de projeto de lei que passou a vigorar a partir da Constituição de 1946, que garantia a liberdade religiosa do país. “Não se extinguiu o preconceito, no entanto, não havia mais permissão para perseguir pais e mães de santos nos terreiros”.

“Para a aprovação do projeto, Jorge usou de uma habilidade que carregou a vida inteira: conversar com todos os setores”, conta Joselia. Ele buscou apoio da direita antes de procurar seus companheiros de sigla, com isso aprovou tranquilamente seu projeto.

Jorge apresentou outras 14 emendas ao projeto de Constituição. Alguma delas previam a isenção do tributo a importação e produção de livros, periódicos e papel de imprensa; a concessão de habeas corpus aqueles que eram vítimas de de arbitrariedades policiais; o fim da censura prévia em livros e jornais; e a contrariedade a obrigação do ensino religioso nas escolas.

“O partido é cassado e os deputados, idem, em 1948. Jorge vai para o exílio na França e na República Tcheca. Nessa época, se torna um quadro importante entre artistas, escritores e cientistas do Movimento pela Paz, braço soviético na batalha cultural”, conta.

O escritor só retornou ao Brasil em 1952 e publica Os subterrâneos da liberdade, seu livro ideologicamente mais marcado. A desconfiança de que as coisas na cortina de ferro não aconteciam como imaginava, por causa da delação e prisão de amigos  que considerava inocentes e eram acusados de conspirar

Diálogo

Na reabertura política chegou a dizer: “Precisamos dar expressão partidária da extrema direita a extrema-esquerda”. “Ele acha que as coisas funcionam democraticamente quando todos os partidos possam existir. É o Jorge Amado”, afirma Joselia.

Homem de esquerda até a morte nunca, deixou de conversar com à direita, aliás, encargo que o fazia tão precioso ao partido.“O que, para ele, era problema para ele era o reacionário. Liberal ou socialista. Isso nunca foi um problema mesmo nos momentos em que ele é extremamente militante. Sendo uma pessoa inteligente, que conversa e que debate era o suficiente. “Ele sempre dizia que o problema era o reacionário, era o latifúndio”.

A partir de 1956, ele decide sair à francesa das atividades partidária. “Jorge se afasta para ser escritor, mas ele não deixa de ser um homem de esquerda. O que ele diz é que na época dele você só era comunista e que hoje – quando ele dá essas entrevistas nos anos 90 – já é possível ser de esquerda de outra maneira, não apenas da maneira dele, no passado. Ele acredita num socialismo com liberdade porque sem liberdade é ditadura e ditadura é uma merda, tanto de direita como de esquerda”.

Há muita vida em Jorge Amado e sua época. Esses são apenas alguns pontos da história do escritor e homem de esquerda. Há outras centenas no livro.

Carta Capital

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